JOÃO, O PÉ, PUTEIRO E SOLIDÃO

sábado, 25 de julho de 2009


“Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome / Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores / Passeio pelo escuro...” (Cores – Adriana Calcanhoto).

João ficou podre de rico e infeliz. Após ter roubado a galinha dos ovos de ouro e a harpa de ouro do gigante, ainda por cima trouxe consigo o número do celular da mulher do gigante otário que ele engabelou.

Quando terminou de pôr o pé de feijão mágico no chão, correu atrás da mãe ingrata e lhe esfregou a harpa e a galinha de ouro. Deste dia em diante João trocou de nome, de cidade e de mãe! Deixou para trás aquela velha coroca que lhe maltratava. Lembrou das infindas secções de surra que levou, pois era “o pára-raios” de sua progenitora. Toda a dor e angustia da pobreza vivida por eles era descontado nele.

Comprou passaportes falsos, fez uma plástica e mandou a galinha botar ovos em série; ela pôs tanto ovo, mais tanto ovo, que não resistiu e morreu. Com raiva dela, fez um caldo e arrancou seu cú de ouro. Após comê-la levou os ovos a um banco e converte-os em muito dinheiro. Fez investimentos em fundos de rendimento fixos, comprou iate, casa de luxo e carros importados do ano. Fez vestibular para jornalismo, e virou magnata das comunicações, tornando-se um dos mais influentes personagens de seu país influenciando até eleições para Primeiro Ministro. Sabendo da separação do gigante, ligou para ela marcado um encontro. Casou com a giganta e tiveram três filhos.

Os anos se passaram e a infelicidade venho junto. A giganta já não dava mais no couro como antigamente... Seus filhos, mal educados e ambiciosos não estavam nem aí para o futuro de seus investimentos. Já não agüentava suas amizades falsas, fúteis e interesseiras; também perdeu o “T” pelos negócios, delegando a administração a assessores mais próximos.

Um belo dia, entediado de tudo deu uma desculpa esfarrapada para a mulher e saiu sem rumos pelas ruas. Pela janela do carro observava a movimentação; pessoas falando ao celular enquanto dirigiam, garotos de rua vendendo balas e chicletes, bares abarrotados de pessoas, acidentes de transito, enfim, a vida acontecendo e sua vida lhe entediava.

Lembrou de sua mãe e dos tempos de miséria. Por um instante quis voltar aquela época e reviver a aventura de ter roubado a galinha e a harpa de ouro; por um momento um sorriso lhe veio a face acalentando seu coração.

De repente percebeu que estava num dos bairros mais pobres da cidade, lugar de prostituição e drogas. Encostou o carro e viu no letreiro “Puteiro Buenas Vista – O Prazer mais barato da cidade”. Adentrou o recinto e observou o naipe que estava a sua disposição; escolheu uma morena magérrima, peito murcho, sem bunda e dentes da frente falhados de nome Godolfreda.

– Quanto custa o serviço moça?
– É R$ 15,00 gatão, mas pra você faço por R$10,00, vai?

Foram para o reservado e quando tiraram à roupa notou que “Freda” tinha metade das pernas raspadas e outra parte cabeluda. Viu que os cabelos da perna dela eram maiores que os seus; sentiu nojo, repulsa, quase vertigem, mas já estava lá e não iria voltar mais. Adentrou Freda “a meia bomba”, sem vontade quase alguma...

Para tentar se animar pensou na gigante e nos bons tempos onde só bastavam se beijar para o sexo acontecer. Com movimentos rápidos gozou sem nenhuma satisfação a mais que os segundos de êxtase que o corpo proporciona. Saiu de cima dela com rapidez e foi ao banheiro lavasse; esfregou-se com força como quem tenta se desfazer de uma mancha. Pagou Freda e saiu do puteiro com vontade de vomitar.

Chorando guiou até sua casa com um vazio maior do que saiu. Chegando, sentou em sua confortável cadeira de balanço e começou a beber seu uísque 18 anos; pensou em sua vida e por tudo que passou. Pela primeira vez desde que deixou sua mãe sentiu remorso por isso. Aliás, sentiu remorso de tudo! (...) De ter trocado a vaca pelo punhado de feijões mágicos, por ter roubado galinha, ovos, harpa de ouro e a mulher do gigante.

Pela primeira vez sua solidão veio acompanhada da consciência de estar só... Sem amigos leais, sem uma família ideal, sem um prazer arrebatador.

João agora é Juan, tem 50 anos, magnata das comunicações, casado, filhos, carros, iates, e casa na praia. Tem tudo que o dinheiro pode comprar menos paz de espírito.


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Comments

14 Responses to “JOÃO, O PÉ, PUTEIRO E SOLIDÃO”
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~*Rebeca*~ disse...

Daniel,

Essa sua estória às avessas tirou de mim boas gargalhadas...ahaha.

Infelizmente, tem muito João que virou Juan e que de paz não entende nada.

Maravilhoso final de semana.

Rebeca

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25 de julho de 2009 às 16:01

Daniel,

Um primor este conto às avessas. rsrs

Adorei tudo, deste o formato até a mensagem.

Beijos e bom domingo. :DD

25 de julho de 2009 às 17:21
Neto disse...

E quantos joãos bobos como este não existem ainda por aí, hein?

Daqueles que trocam (ou não sabem dar) os verdadeiros valores por coisas fugazes?

A história é interessante, agora uma "puta cabeluda" deve ser demais mesmo pro coração :)

Belo conto, rapá!

26 de julho de 2009 às 08:06
PR Iuris disse...

Ri bastante com você, mas o final é tão popular, vemos aos montes desse seu personagem por aí.

Desculpe, não me apresentei. Sou uma blogueira antiga, que saiu do mundo dos blogs e tá voltando agora. Escrever em blog é também ler blogs e, ao voltar descobri que os que lia, também se foram, por isso estou visitando e conhecendo novos espaços, assim cheguei aqui.
Prazer. Bom restante de domingo
Até mais.

26 de julho de 2009 às 13:07
Lugirão disse...

Adoro essa música da Adriana.

Tem muito Juan por ai que é infeliz... pobres coitados... mas que vivem a vida que escolheram e desejaram.... e quando conseguiram só restou o vazio... mas não vão fazer nada para mudar isso. Afinal foi para isso que lutaram, muitas vezes sem escrúpulos... não vão abrir mão da "conquista".

Bjos

26 de julho de 2009 às 15:54
Jairo Borges disse...

Nossa Dani! Texto perfeito msm! Mt legal, interessante, rápido, realista! Gostei mt Daniel, gosto desses textos q mostram as mazelas do ser humano! A alusão tbm ficou mt boa! Abçs!

26 de julho de 2009 às 22:01
. fina flor . disse...

acontece com alguns.....

mas por outro lado, não gosto muito da idéia de que o dinheiro não traz felicidade, tão difundida por aí, ele traz, sim, basta ser dono dele e não deixar que ele seja seu dono ;o)

beijos, querido e uma ótima semana

MM.

>>> tô com novo brinquedinho, se quiser, desce pro play e vem: www.twitter.com/monicamontone

27 de julho de 2009 às 11:16
Anônimo disse...

Um boa mensagem com uma eterna reflexão!!!Hoje as pessoas lidam bem com a falta de Paz de espírito,
muitas nem sabem do que se trata!!!
Uma linda e abençoada semana,
DanDan, aparece no KeKinha e no Orkut.Beijos no seu coração!KeKa.
http://keka-dan.myblog.com.br
http://fascinacaoempoemas.splinder.com

27 de julho de 2009 às 15:16
Anônimo disse...

Votei lá no Top Blog.Vc merece,
fica bem, fica com Deus!!!
Um grande abraço de quem te admira
e te gosta, KeKa.

27 de julho de 2009 às 15:21
PR Iuris disse...

Pois é, normalidade é só um pessoal que somou mais na folha de um papel. Rs...
Vou te seguir por aqui.
Bjo

28 de julho de 2009 às 00:06
Edgar Borges disse...

isso pq ele ainda nao foi ao analista para tirar o estresse.
abraços!

28 de julho de 2009 às 14:48
Juliane Ramos disse...
Este comentário foi removido pelo autor. 28 de julho de 2009 às 18:21
Juh disse...

Muito legal seu conto! Na verdade, pra mim, isso é mais que um conto. É puro realidade comum. Nesse nosso mundo de shows de hipocrisia, joao, juan e tantos outros por aí são facilmente encontrados e eu, facilmente tenho profunda pena deles.
Adorei sua autenticidade. Ah, e obrigada por add. Faremos o mesmo! Beijo

28 de julho de 2009 às 18:23
Sonia Pallone disse...

Muito bom Daniel! Seu jeito de escrever é ímpar. Tô votando lá, tb recebi a indicação mas não tenho tempo de divulgar, então torço por vc. Bjs.

29 de julho de 2009 às 06:39