MERDA

sábado, 23 de maio de 2009

Eram 06:20 quando acordei para ir ao Posto de Saúde que fica perto de casa, deixar “o material” de fezes e urina.

Meu intestino, bem como o dono é anárquico, odeia ordens, só “funciona” quando quer. Não possui horário certo para o “número dois”. Escovei dos dentes, pequei a toalha e fiz-me Rei! É... Confesso que tava difícil! Senti uma “fileirinha de merda” aportando na porta de saída, querendo ir, mas não ia! Ficamos nessa por mais ou menos vinte minutos, até a dita cuja enfim dar o ar de sua graça (e fedor), caída numa latinha de Doriana estrategicamente posicionada entre minha bunda e a água da privada.

Após essa primeira fileira rebelde descer veio mais duas. O suficiente para deixar em meio pote, o que já era suficiente para a análise (me pergunto sobre esse povo de “análise clínicas”, que trabalham literalmente na merda... Como esse povo é capaz de almoçar? Será que no final da vida profissional, terão capacidade de sentir algo que não seja fedentina? Eis a questão).

Levei o material enrolado num pedaço de jornal velho (os potes eram transparentes). Na primeira, a chamada principal dizia: “China oficializa recessão” – pensei: “É, a coisa ta feia!”. Fui andando até o Posto de Saúde, duas quadras de minha casa. Dez minutos e já estava lá.

Chegando, vi que tinham dez pessoas a minha frente; numa mesinha, uma senhora pegava os materiais e assinalava os mesmos. Muitos como o meu eram transparentes – pensei: “minhas fileirinhas de merda são mais discretas”. Havia cada tolete...

Não pude deixar de vê as categorias de merda que lia estava. Umas meio rochas, outras líquidas, mas só a minha em tiras. Entreguei meu material e fui pra casa. Ontem foi dia da consulta, peguei os resultados na recepção e fui esperar a médica. Quando cheguei eram 13:00 horas em ponto; como sempre, esses médicos acham que agente não tem mais nada que fazer da vida, pois seu horário de atendimento é as 14:00 e a mesma foi chegar as 14:40 (cidade pequena como Boa Vista não tem a desculpa do transito).

Enquanto esperava não pude deixar de pensar na merda (e em merda). Percebi o quanto somos tratados feitos bostas, excrementos que servem aos desígnios da classe dominante. Vejam: para os políticos somos meros números, o quantitativo necessário para sua perpetuação no Poder. Oferecerem-nos as “Bolsas Misérias” e Fome Zero, atos paliativos, dando o peixe, mas nunca ensinando a pescar, escravizando cada vez mais o povo pobre que se transformam em miseráveis.

Para o Capital somos o proletariado que é explorado através desse Sistema Capitalista Neoliberal que pôs fim ao víeis social do emprego, nos exigindo cada vez mais e oferecendo cada vez menos.

E para nós mesmos? Somos o BBB! A alienação nossa de cada dia. A diversão fugaz e sem sentido que faz o País inteiro por três meses sofríveis discutir em filas de banco, rodas de bares, festas e afins, quem fica e quem saí da casa mais vigiada do Brasil (Né não Bial?).

Somos merda de nós mesmos! Vejam o caso de Santa Catarina. Pergunto-lhes: A culpa é de quem? Da natureza, cada vez mais desrespeitada pelos homens, que poluem, desmatam, jogam suas merdas e afins Tietê a baixo, ou de nós? Que elegemos políticos sem nenhum compromisso, que deixaram as metrópoles crescerem sem qualquer planejamento?

Nós somos uma merda cada vez mais fedorenta! Bandidos que arrastam crianças bairro a fora; pai que atira filha pela janela; pai e madrasta assassinando irmãos; um lunático que mata namorada e pais que permitem que um homem de 19 anos namore que uma criança de 12; ex-marido que obriga mulher e filho a se atirarem pela janela. Anjo caído que tem poder de um Deus e Deus explorado, sendo bode expiratório de pastores que exploram a fé alheia em nome da ganância.

Porém, às vezes, se vê motivos para ter visões mais interessantes da porcaria de sociedade em vivemos. Enquanto esperava, resolvi me encostar em um pilar; enquanto me refestelava, ouvi em assobios o clássico do rei do baião, Luis Gonzaga, Asa Branca. O assobio era de uma “melodia” aconchegante... Quando olhei pra trás, percebi que quem assobiava era um senhor paraplégico em sua cadeira de roda – pensei: “quem somos nós? E até onde chega o fedor de nossas merdas?
"No fundo do oceano existe um baú que guarda o segredo almejado desde a aurora dos tempos por gênios, sábios, alquimistas e conquistadores. Eu conheci esse baú num estranho ritual revelado a poucos. Hoje eu posso enfim revelar que essa busca de séculos foi em vão.

A Pedra do Gênesis
Está bem aqui e agora, você pode tocar.
É a escada do seu velho sonho
Que vai dar sempre onde começou.
É a chave do maior poder
Que não vale um chiclete
Que alguém mascou...”

(A Pedra do Gênesi – Raul Seixas)

Texto originalmente postado no Só Pensando.

Comments

7 Responses to “MERDA”
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Marcela disse...

Mais uma vez você me bota pra pensar em meio à exame de fezes e pensamentos críticoa, haha
Baaci Daniel :)

24 de maio de 2009 às 12:36
Jairo Borges disse...

Pow Dani! Agnt quase ñ tem mais esperança na vida, e vc fica desesperançando mais ainda! É Mt merda cara nem fala!

25 de maio de 2009 às 18:10
Luma Rosa disse...

Eita! Acho que você acordou literalmente enfezado!! Beijus

26 de maio de 2009 às 19:15
Bárbara Stracke disse...

não tenho o que contestar! apenas concordar...

muito sério... muito real!

27 de maio de 2009 às 08:45
Unknown disse...

Calma Dani..tem dia que sempre é assim o nao certo...mas no fim tudo c ajeita...

abraçao

27 de maio de 2009 às 16:24
Neto disse...

Já havia me dito que o cara refletia muito no banheiro. Só não achei que era tanto.

Abraços chapa! :)

29 de maio de 2009 às 15:41
Edgar Borges disse...

ei, 10 minutos para duas quadras? Falei calma, heim? No mais, diria que é um tema muito interno esse aí. abraços!

1 de junho de 2009 às 12:33